domingo, 11 de novembro de 2012

Toinho Coca-Cola

Por Osterne Feitosa

Hoje, compartilha conosco o universo.


Era o final de jogo e Toinho Coca-cola descia as escadas do Presidente Vargas. 

- Não gosto deste homem. Disse um amigo torcedor que descia ao meu lado.
- Fácil, amigo, é gostar de Gisele Bünchen. Retruquei. - Porém não há mérito em gostar dela. Completei.

Para usar um eufemismo, diria que Toinho era muito desagradável aos olhos. A maioria das vezes faltava banho e pente. Sempre pedia. Reclamava da grossura e da indiferença. Usava muletas. Caxingava. E estava sempre presente no meio dos cheirosos a nos lembrar do que não gostaríamos de ser.

Nosso Toinho, à força, nos dentes, levava uns trocados pra casa todos os jogos. Dava chaveiros do Fortaleza aos que o ajudavam. E, de vez enquanto, se via um sorriso da criança que um dia fora brotar em seu rosto. Diziam que ele fora filho de pai rico. Que tinha irmão juiz. Que fora professor formado. Lenda ou verdade? Sinceramente não sei. Sei que dava aula de resiliência. Morto, para a sociedade, andava no meio dela. Sujo. Pobre. Feio. Mas nobre.

Soube quarta, pelo rádio, que falecera Toinho Coca-Cola. Figura comum na Assembléia e no estádio. Como não sabia o seu nome, somente hoje, ao ver uma foto compartilhada pelo Totonho Laprovítera, tive a certeza de que quem morrera era ele mesmo. Parte de nós se vai. Uma parte com a qual não gostávamos de compartilhar o ar. Hoje ele compartilha conosco o universo.

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