segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ô bicho ignorante!

Por Osterne Feitosa


1:42:00, Sobral, Ce, Quarta-feira. Margem esquerda do Acaraú. Um grupo de engenheiros procura uma solução para a limpeza do rio.

Para quem já andou em Icó, Quixeramobim, Mossoró ou no inferno da pedra, sabe o que significa este sol batendo no quengo. Especialmente nesta hora em que até muriçoca se recusa a voar. É o suor descendo pelo queixo e a suave brisa que sopra parece que saiu do forno da padaria mais próxima.

De longe, debaixo de um pé de pau, Honório Firmeza viu aquela arrumação. Eram no mínimo uns dez que desafiavam a hora da cremação de juízo e se aglomeravam na beira do rio. 

Hora de ganhar o pão. Fazer o quê?

Levantou a tampa do isopor que descansava à seus pés. Checou o gelo já meio derretido e as cinco garrafas de água mineral. Colocou a fita da caixa no pescoço e levantou. Tirou o "boneu" surrado, sacudiu no ar e colocou na cabeça. Deu um pigarro, soltou a ponta do cigarro no chão, e foi à luta.

Água gelada… Água gelada… Cantarolava em uma voz que era um misto de cantiga de grilo manco com piado de pinto de um dia. 

- Água gelada. Disse para o primeiro que encontrou.
- Quanto? Perguntou.
- Cinco. Respondeu.
- Só quero uma, não é a caixa toda não. Disse o abusado cliente.
- Neste caso, melhor pegar água da senhora sua mãe, que é de graça. 

E saiu repetindo cadenciadamente: água gelada… Pra quem tem sede e não é liso…

(Foto: Osterne Feitosa)

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