quarta-feira, 1 de março de 2017

Uma lapada


Sucedeu-se na Serra da Meruoca, na bodega do “seu” Gerardo, onde eu estava me distraindo um pouco. Entre sacas de arroz, feijão, açúcar e farinha, abancado em um tamborete ao pé do encerado balcão, na mansidão do lugar eu bilava o movimento e rebolava no mato um tiquinho de conversa fora. 

Aí, da clara rua, adentrou ao denso recinto uma contrita senhora de idade, trajando um tradicional vestido de pano azul claro e bolsos largos, com uma mantilha aos ombros e um Missal envolto com terço às mãos. Seguramente, ia à Missa das cinco. Aproximou-se do balcão – autêntico altar da boemia – e baixinho, quase cochichando, rogou: - “Por obséquio, ´seu´ Gerardo, uma lapada.” 

Com toda a calma do mundo, “seu” Gerardo serviu-lhe a cana até a beira da boca do velho copo americano. Ela ofereceu ao santo, virou a talagada de uma vez só, passou a mão nos beiços, pagou em moedas e, serenamente, carregada de fé, seguiu às suas religiosas obrigações. 

(Foto: Google)

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